domingo, 30 de maio de 2010

PAULA PARISOT EM ENTREVISTA EXCLUSIVA

PAULA DURANTE A PERFORMANCE
DESENHO FEITO DURANTE A PERFORMANCE
DESENHO FEITO DURANTE A PERFORMANCE
Falar em arte performática hoje no Brasil, sem falar na escritora e artista multidisciplinar Paula Parisot é quase impossível. Talentosa, criativa e ousada, Paula nos conta, com exclusividade, nesta entrevista sobre sua paixão pela arte de escrever, desenhar, criar e viver.
À frente de seu tempo, esta carioca de 31 anos, que viveu no exterior durante alguns anos, primeiro em Nova York onde fez mestrado em belas-artes e depois viajando pelas mais remotas partes do mundo quando trabalhou como ilustradora, tem na alma a interação de todas as artes. “O elo entre a performance e a literatura é o mesmo entre qualquer forma de expressão artística. A música, a pintura, o teatro, a literatura, a dança, são meios e a relação entre eles quem estabelece é o artista. Então pergunto: Porque um escritor não pode fazer uma performance? Por que isso parece tão estranho?”, diz Paula, que lançou o livro este ano pela editora Leya e explodiu de forma polêmica em todo o país. Preparando-se para o lançamento de Parafusos Sobressalentes, compilação dos desenhos, ilustrações e textos que criou durante a performance na casa de acrílico em que viveu por 6 noites e 7 dias dentro da livraria da Vila, em São Paulo, Paula fala sobre seus planos para o futuro e otras cositas más.

1)Eu, particularmente, tive a honra de conhecer de perto, em alguns anos de convívio, a atriz, designer de bolsas, ilustradora e escritora Paula Parisot e pude acompanhar o talento e maestria com que você sempre tocou cada uma destas áreas, que se unem em duas mágicas palavras: talento e criatividade. Você acaba de lançar o romance Gonzos e Parafusos e causou polêmica com a performance . Talvez as pessoas não tenham entendido realmente qual era a sua intenção ao interpretar a Isabela dentro da morada (forma como Paula se refere à casa de acrícilico na livraria). A performance poderia ser comparada a uma teatralização do livro ?
Na verdade a minha intenção não era interpretar a Isabela e também não vejo a performance como uma teatralização do meu livro.Sabe, Patrícia, escrever um livro é surgir do nada, você tem que criar algo, por menor que seja, e seguir escrevendo, mesmo que não saiba para onde está indo. É como na vida, você tem que se inventar todos os dias e seguir vivendo. Talvez por isso eu tenha feito a performance, porque performance é arte viva, é a vida ritualizada, com o que há de mais significativo. Creio que a performance nasceu da necessidade de eu me unir, eu, em carne e osso, com a história que inventei. Como se eu pudesse fundir ficção e realidade.
A medida em que eu escrevia o “Gonzos e parafusos”, em certos momentos, eu me confundia com a Isabela, a minha protagonista. Reconhecia as semelhanças que existiam entre mim e ela. No entanto, eu não sou a Isabela, não sou uma psicanalista, não tenho um gato, não sou solteira, a minha avó paterna não se suicidou, continua viva e não tem cabelo roxo e meu pai também está vivo, eu não me corto ou penso em me suicidar. Porém, como a Isabela eu sou essa pessoa que às vezes não sabe quem é e sente saudades de si mesma.
Eu sou muitas, você é muitas, todos nós somos muitos e na hora de escrever por mais que eu tente fugir, não adianta, estou sempre ali, ainda que o personagem não tenha qualquer semelhança comigo. A Isabela sou eu e eu me transcendo ao criá-la, eu me transcendo ao vive-la.


2) A arte performática é uma tendência fortíssima no exterior e a artista Marina Abramovic, um dos nomes mais representativos quando se trata do assunto, serviu de alguma forma como inspiração para a criação da sua performance?
Creio que sim, sou grande admiradora do trabalho da Marina Abramovic, principalmente das performances que ela fez com o Ulay. Ana Mendita, Vito Acconci, Valie Export, Joseph Beuys e Tehching Hsieh são outros artistas que faziam e fazem performances que me fascinam. Uma das coisas que mais me agrada na arte performática é que não só o artista, mas também o espectador, tem que ultrapassar o ridículo para poder se deparar com o sublime – isso é maravilhoso, exige petulância de ambas as partes.

3)Você vem se mostrando uma artista multidisciplinar para o público. Quais os seus planos profissionais para o futuro ? Quais formas de expressão artística você pensa em utilizar em seu próximo projeto literário ?
Pretendo continuar escrevendo. Gosto de pensar que sou uma escritora que desenha, uma escritora que faz performance, uma escritora que se dá a liberdade de fazer o que sente necessidade. Quero ser livre e isso é difícil, a liberdade assusta, é um vácuo onde a primeira e última palavra deve ser nossa.
No momento estou trabalhando no meu próximo romance, ainda sem título, que é narrado por um homem, na primeira pessoa. É provável que eu faça outra performance baseada nesse romance, mas isso só saberei quando terminar de escrever.


4) Você lançará Gonzos e Parafusos em Portugal. Como será a performance por lá ? Será diferente da que aconteceu em São Paulo ?
O “Gonzos e parafusos” vai sair em Portugal. Quanto a performance ainda estamos negociando, pois eu quero fazer uma outra performance completamente diferente da que fiz em São Paulo. Não gosto da ideia de repetir uma performance, para mim ela deve ser única, como um livro. Não se pode escrever o mesmo livro, certo?

5) E o que vai ser exatamente o livro Parafusos Sobressalentes?
Uma compilação com todos os desenhos e escritos que fiz, nos cadernos e nas paredes da morada de acrílico, durante a performance. O livro “Parafusos Sobressalentes” será dividido em 7 capítulos (7 parafusos), que equivalem a cada um dos sete dias da performance.

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